domingo, 15 de outubro de 2017

Opinião - Mulheres Perigosas (Antologia)




Mulheres Perigosas é mais uma antologia de contos organizados por George R. R. Martin, que também contribui com um conto, e Gardner Dozois na esteira de outras antologias já editadas pela editora Saída de Emergência. A premissa, tal como vem descrito na contra-capa é a de que neste livro vamos encontrar "mulheres guerreiras que brandem espadas, intrépidas pilotos de caças, formidáveis super-heroínas, femmes fatales astutas e sedutoras, feiticeiras, más raparigas duronas, bandidas e rebeldes, sobreviventes endurecidas em futuros pós-apocalípticos, rainhas altivas que governam nações e cujas invejas e ambições enviam milhares para mortes macabras, mulheres que não hesitam em assumir a liderança para defenderem aquilo em que acreditam" por oposição ao estereótipo das "mulheres infelizes ficam a choramingar de pavor enquanto o herói masculino combate o monstro ou choca espadas com o vilão". O problema é que esta promessa não é cumprida na totalidade e alguns contos chegam mesmo a mostrar "mulheres infelizes e a choramingar".

A antologia começa muito bem com o conto de Joe Abercrombie "Completamente Perdida" com uma mulher verdadeiramente perigosa como o titulo promete. A primeira senhora desta antologia é Mega Abbott com "Ou o Meu Coração Destroçado" num interessante policial de uma mãe a quem a filha desaparece, onde vemos um mulher perigosa é verdade, mas de uma maneira muito diferente do primeiro conto. Melinda M. Snodgrass é a senhora que se segue com "As Mãos Que Não Estão Lá" e também o primeiro conto de Ficção Científica. Carrie Vaughn faz com que regressemos novamente à Terra com "Raisa Stepanova" em que nos mostra as mulheres soviéticas que durante a Segunda Grande Guerra pilotaram aviões (caças) ao lado dos homens num história que nos mostra acima de tudo que a História está pejada de grandes mulheres.

Eis que chegamos ao conto que "estraga" tudo: "Eu Sei Escolhê-las a Dedo" de Lawrence Block (que ironicamente também parece ter sido escolhido a dedo). O autor até pode ser um grande escritor e o conto está bem escrito, mas este conto está completamente "fora de água" e o que faz nesta antologia é um mistério.

Como para nos fazer esquecer o erro de "casting" anterior os antologistas dão-nos Brandon Sanderson com o conto "Sombras para Silêncio nas Florestas do Inferno". Confesso que não tinha este autor em grande consideração, mas este conto fez ver que posso estar (muito) enganado e este conto é um realmente muito bom, em todos os aspectos, seja na narrativa ou história.

Segue-se mais uma conto baseado na Historia, neste caso da Rainha Constança de Hauteville, com  "Uma Rainha no Exílio" de Sharon Kay Penman. 

Lev Grossman dá-nos "A Rapariga no Espelho" um conto com travo ao Universo de Harry Potter, mas que foi um gosto ler.

Sam Sykes tenta "Dar Nome à Fera" num conto que mostra que ser mão é mais do que parir.

Caroline Spector e "As Mentiras Que a Minha Mãe Me Contou" foram uma surpresa porque não estava à espera de encontrar nas paginas desta antologia um conto passado num outro Universo que o Martin também ajudou a criar: Wild Cards. Apesar de não estar publicado entre nós (espero que um dia isso venha a acontecer) já o conhecia este Universo por alto e tinha alguma curiosidade em saber mais sobre ele e este conto foi uma agradável maneira de começar.

E claro que ficou para o fim o ansiado e muito aguardado conto do George R. R. Martin intitulado "A Princesa e a Rainha ou Os Negros e os Verdes". Admito que apesar de gostar de conhecer sempre mais do Mundo que é Westeros este conto ficou um pouco aquém das minhas expectativas, não pelas informação revelado, mas pela maneira como o Martin escreveu o conto, que parece ter sido escrito por um meister, faltando-lhe algum "sal". Não está mau e tenho a certeza que satisfará os muitos leitores e fãs do Martin. Existe um outro ponto a rever em futuras reedições a existirem: o tradutor (e por inerência da revisora) traduziu o nome de um dos Sete deuses de Westeros mal, em vez de termos o Estranho temos o Forasteiro. Um erro de palmatoria por vários motivos e facilmente evitável.




Esta foi uma boa antologia com contos acima da media sem que exista um que eu possa afirmar que seja mau. Existem histórias para todos os gostos e em vários géneros . O único ponto negativo é alguns contos se afastarem do que o titulo promete, em especial  "Eu Sei Escolhê-las a Dedo" de Lawrence Block.

Resta esperar que segunda parte desta antologia chegue depressa.


Título - Mulheres Perigosas
Autores - Joe Abercrombie, Mega Abbott, Melinda M. Snodgrass, Carrie Vaughn, Lawrence Block, Brandon Sanderson, Sharon Kay Penman, Lev Grossman, Sam Sykes, Caroline Spector, George R. R. Martin
Colecção - Bang! n.º 272
Editora - Saída de Emergência
Tradutor - Rui Azeredo




quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Opinião - Selecção de Joel G. Gomes



Depois de ter lido a introdução a este universo que o Joel G. Gomes criou com "A Arca" eis que regresso para dar a minha opinião sobre a continuação e já não era sem tempo...

Neste segundo episódio começamos (quase) onde termina "A Arca". Vamos conhecer André Lopes, um inspector da Policia de Investigação Nacional (PIN), que é chamado ao que parece ser o local de um duplo homicídio: a casa de Valter Braz. Aqui o inspector André Lopes vai-se deparar com um cenário onde a "bota não bate com a perdigota". Vamos observar também a relação tensa com o técnico forense Santiago, um tipo que segue as regras todas ao contrario dele (pessoalmente acredito que Santiago ainda vai ter mais protagonismo, mas...). A tentativa de resolver o caso vai atira-lo para locais não cartografados e é melhor não dizer mais.

Gostei da historia e das tensões e pormenores com que o Joel "coloriu" a vida do André Lopes dando-lhe assim uma tridimensionalidade não só plausível, mas que também aproxima o leitor da personagem dando-lhe um vida tão comum como a nossa, cheia de problemas e de chatices, seja em casa ou no trabalho, mas também de bons momentos nas suas amizades e no facto de estar quase a ser pai. E ele atravessa uma fase difícil da sua vida, a sua esposa está no final da gravidez e anda com humor nada agradável. No trabalho as coisas também não andam bem, é um homem que tenta fugir da sombra do seu pai, o lendário Inspector Dinis Lopes que acabou em desgraça (embora não saibamos porquê) e tenta resolver um caso que parece impossível de resolver à luz de toda a lógica.

Esta é uma obra que deixa algumas "pontas soltas", como por exemplo quem é a D. Argentina (ou lá como se chama), mas estando a falar de um universo mais vasto, em que este é apenas o segundo tomo é apenas natural e deixa o leitor mais curioso sobre o que ai vem, pelo menos a mim deixou.

Este é mais um excelente episódio que vem reforçar a minha opinião de que o Joel é um grande autor e que a sua obra merece toda atenção.

Se ficaram curiosos podem e devem procurar este (e os outros episódios), por exemplo, nos seguintes links:



E claro sempre podem recorrer à pagina do autor para estar a par das novidades em Joel G. Gomes

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Opinião - The Dark Sea War Chronicles - Book 1 - Fighting the Silent de Bruno Martins Soares



O Bruno Martins Soares é actualmente (mais) conhecido pela sua Saga de Alex 9, mas o que é hoje um só livro publicado na colecção Bang! começou como uma trilogia na (extinta) colecção TEEN sob o pseudónimo de Martin S. Brau.  O Bruno regressa agora com um novo projecto em nome próprio, mas escrito em inglês: The Dark Sea War Chronicles - Book 1 - Fighting the Silent. O Mundo dá muitas voltas e nós com ele.

Neste livro de Ficção Científica (com um forte componente militaristas) vamos encontrar três civilizações: a Republica de Axx, o Reino de Torrance e a sua aliada Webbur. Axx declara guerra a Torrance, Webbor como sua aliada acaba por ser arrastada para o conflito. De um modo simplista é este o resumo deste livro. Pela voz e olhos de um soldado, o Tenente Byllard Iddo, um jovem de vinte e um anos (quando começa o livro) e que serve na ponte da toda poderosa Magnar, a nave  de comando da Segunda Frota de Webbor, vamos ficar a conhecer este Universo. É lá que ele, e nós os leitores vamos assistir em primeira mão ao poder mortífero das Silent Boats (Naves Silenciosas), naves (quase) invisíveis aos meios de detecção e que só se dá por elas quando já é tarde de mais. Depois deste mortífero ataque as coisas começa a mudar. Para ajudar Torrance naves da marinha mercante de Webbur participam em comboios que transportam bens e a Marinha coloca em cada uma um oficial júnior para ajudar. É assim que Iddo se vê a bordo da nave Harvy como primeiro oficial sob o comando da capitã Mirany “Mira” Cavo, filha do renomado almirante Vincenz Cavo.

Como será óbvio as coisas não correm propriamente bem. Apesar de cada comboio ser guardado por duas nave da Marinha, os comboios são frequentemente atacados pelas naves silenciosas e as perdas de vidas e naves são enormes. E o melhor é parar por aqui antes que conte o que não devo

Este foi um livro interessante em vários aspecto (no bom sentido). Ao contrario do que possam a primeira vista pensar neste livro existe mais do que guerra também existe paixão e amor, perda e tristeza. E é aqui que a escolha do Bruno, quando opta por nos contar a história na primeira pessoa, se revelava acertada. É pelos olhos do jovem Iddo que vamos sentir todas essa emoções e assim uma visão mais pessoal dos acontecimentos.

O Bruno é também um autor com uma habilidade para escrever as partes de acção e suspense, mantendo o leitor agarrado ao livro. E mesmo as partes em que é "obrigado" a escrever longas passagens para situar o leitor na história deste universo e nas suas particularidade ele navega essas águas como um velho lobo do espaço que já sabe onde estão todas as armadilhas, tornando interessante algo que nas mãos de outro autor menos talentoso seria aborrecido.

Este primeiro volume tem "apenas" cento e setenta e nove páginas, mas elas voa quando as estamos a ler e paradoxalmente parecem muito mais tal a densidade da leitura e tudo o que o Bruno conseguido lá colocar em tão poucas páginas. Talvez seja apenas o habito de ler livros com duas ou mesmo três vezes mais páginas quando o podiam fazer com muito menos e assim melhor a leitura, tal como o Bruno aqui fez.

Se tivesse de apontar um ponto negativo a este livro seria o facto de apenas estar disponível em inglês, o que vai privar todos os leitores portugueses que não lêem na língua de Shakespeare. Mas ao mesmo tempo o mundo vai poder conhecer um dos nossos grandes autores e que vai a caminho de voos mais altos e quem sabe se um dia  esta obra não vê a luz do dia no nosso bom e velho Português?

O Bruno criou aqui um cativante universo que ainda só agora começou a explorar e que já aqui tem um leitor ansioso pelo próximo volume.

Podem e devem procurar este livro na loja on-line Amazon neste link: The Dark Sea War Chronicles - Book 1 - Fighting the Silent de Bruno Martins Soares