terça-feira, 6 de setembro de 2016

Opinião (BD) - Daytripper de Fábio Moon e Gabriel Bá



O que distingue um bom livro? Tenho a certeza que muitas serão as respostas, mas a verdade é que tudo se resume a um factor: se o livro consegue envolver-nos emocional e/ou intelectualmente. E este "Daytripper" dos gémeos brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá cumpre este requisito de envolver o leitor, bem pelo menos a mim isso aconteceu.

Antes de avançar para a minha opinião gostaria de expor alguns esclarecimentos sobre dúvidas que eu vi expostas em alguns blogs. Este livro foi escrito pelos gémeos brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá. Toda a acção passa-se no Brasil, mas ele foi originalmente publicado nos Estados Unidos da América (em inglês obviamente) pela DC Comics na linha adulta Vertigo. Apenas posteriormente foi publicado no Brasil e aí foi traduzido para português (do Brasil) por um tradutor brasileiro e os autores não participaram da mesma (tanto quanto se sabe). A presente edição da Levoir é baseada na edição original da Vertigo e traduzida do inglês. Espero assim ter esclarecido alguma dúvida ou mal entendido que eventualmente tenha surgido.


Mesmo antes de começar já as expectativas eram elevadas devido às excelentes criticas no blogue As Leituras do Pedro do Pedro Cleto (autor do prefácio e tradutor do livro), e do Nuno Amado do blogue Leituras de BD.

A história foi originalmente publicada em dez fascículos e retratam a vida e mortes (sim leram bem mortes, no plural) de Brás de Oliva Domingues. Pode parecer estranho e repetitivo dito assim, mas como em tantas outras coisas as aparências iludem, e muito. Foi esta a maneira que os autores encontraram para contar a vida de Brás de Oliva Domingues. Cada episódio tem como título um número que corresponde à sua idade. Sem ordem aparente vamos andar para a frente e para trás assistindo a bocados da sua vida, tão depressa estamos com ele a viver o seu primeiro grande amor, como a seguir presenciamos a sua infância, antes do inevitável e fatal desfecho. A verdadeira beleza desta obra está precisamente no que leva às suas mortes. Cada morte é uma lição, seja no que levou a ela seja nas suas consequências. É aqui que eu regresso às minhas palavras iniciais pois é neste jogo, se assim o podemos chamar, que nós, leitores, damos connosco a nos emocionar por tudo o que sabemos que ele ainda poderia ter vivido. É assim que damos por nós a pensar na nossa própria vida, em tudo o que já vivemos e no que ainda nos espera. É assim que damos por nós a imaginar no que teríamos perdido se tivéssemos morrido nesta ou naquela situação. É assim que damos por nós a sonhar com todas as escolhas que fizemos, e pensamos "E se eu tivesse dito que sim?" ou "E se teu tivesse ficado?" e todas as infindáveis variações de escolhas que não fizemos e que poderiam ter alterado a nossa vida, fosse para o melhor fosse para pior.

Adorei a Arte deste livro e, em muito,  isso deve-se às cores de Dave Stewart. Gostei muito da planificação das páginas e à capacidade de os desenhos "falarem" com o leitor, mesmo quando, ou especialmente quando não havia texto, com os desenhos a serem extremamente expressivos, principalmente ao nível das expressões faciais. 





Apesar de todos os excelentes livros já editados e que ainda serão editados e sem prejuízo da excepcional qualidade de cada um deles, e mesmo ainda faltando publicar alguns livros, eu arriscaria dizer que este livro foi o que mais me marcou nesta segunda leva de Novelas Gráficas.


Título - Daytripper
Autores - Fábio Moon e Gabriel Bá
Cores - Dave Stewart
Colecção - Novela Gráfica (vol. 2) n.º 11
Editora - Levoir
Tradutor - Pedro Cleto

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