quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Opinião - O Medo do Homem Sábio (parte 1 e 2) de Patrick Rothfuss



Depois de "O Nome do Vento" Patrick Rothfuss volta com o "O Medo do Homem Sábio", que em Portugal foi dividida em duas partes. Kovthe regressa para neste segundo dia narrar mais uma parte da sua vida. O meu problema com este livro foi o mesmo que tive com o primeiro: as expectativas. O marketing destes livros é muito bom e deixa-nos "água na boca", mas como em toda a publicidade existe um fosso entre o que ela promete e o que o "produto" cumpre. Repare-se que eu até não desgostei do que li, mas estava à espera de mais, muito, muito mais. Quando me prometem um tipo como é descrito no primeiro livro, "O Nome do Vento", eu espero que cumpram, mas isso não aconteceu. Ok, damos um desconto até porque até gostamos do que lemos e esperamos pela segunda parte. E heis que lendo "O Medo do Homem Sábio" (parte 1 e 2) começa o meu problema. É um livro que se lê bem, deu para entreter, mas aquele click, aquele momento em que nos sentimos na história, nunca chega. Mais uma vez temos um livro(s) (parte 1 e 2) de que gostei, escrita bonita, competente, mas onde estão aquelas aventuras de não conseguir parar de virar as páginas? Onde está o tipo que incendiou Trebon? Onde está o tipo que dormiu com Felurian e partiu com a sua sanidade? Onde está o tipo que se tornará uma lenda?  Onde? Eu bem que fui lendo página atrás de página, mas nada. Vou lendo os acontecimentos de que as contra capas falavam, mas é tudo muito insosso, tudo acontece sem que o meu coração comece a acelerar. Nada de nada.

O que temos é (quase) uma auto-biografia, mas que como livro de ficção falha redondamente, andamos a seguir praticamente todos os passos do Kovthe, só falta saber o que ele leva para ler no quarto de banho e depois "falhamos" a sua viagem marítima, que até teve as suas atribulações, mas fica para outra altura, mas que raio?! Temos um livro (ou dois em Portugal) que promete um manjar digno de Reis, mas que no fim se resume a uma sopa aguada.

Como eu disse as expectativas são coisas tramadas, conseguem "transformar" um bom livro em algo "assim-a-assim" e vice-versa. Quando sairem os livros seguintes irei (apesar de tudo) lê-los, mas a não ser que o Patrick Rothfuss se consiga transcender a minha opinião vai continuar a mesma. 


Titulo(s) -  O Medo do Homem Sábio (parte 1 e 2)
Autor - Patrick Rothfuss
Editora - Asa
Colecção - 1001 Mundos
Tradutor - Renato Carreira

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Opinião - Duas Gotas de Sangue e um Corpo para a Eternidade de Carina Portugal



Inglaterra, 1594. Uma pequena aldeia, lar de Alaina e Leonora, irmãs gémeas e uma espécie de curandeiras.
A história começa com a queima em praça publica de Beaumont, um curandeiro acusado de bruxaria. Este antes de ser completamente consumido pelas chamas amaldiçoa a aldeia:

Por este crime, todos os que me consideram culpado, todos os que conjuraram a minha morte, todos os que incriminam os inocentes serão perseguidos pelos vossos piores pesadelos! Os demónios consumir-vos-ão a alma! Eu vos amaldiçoo para toda a eternidade, malditos!

Esta é um das duas "profecias" que irão guiar a narrativa, não revelo a outra porque não é tão óbvia (digo eu) e claro porque iria estragar a história a quem ainda não leu. E assim se inicia um conto onde o sobrenatural irá estar sempre presente, mas em que o principal é a historia destas duas irmãs que tem muitos segredos, e que até a mim me surpreenderam (e muito).

O sobrenatural estará sempre presente, claro, perto, mas lá fora, longe da vista, mas os seus efeitos irão sentir-se e comandar parte da narrativa. O "resto" é o segredo que elas guardam e escondem pelas consequências que teria se fosse descoberto. Com Arte e Mestria a Carina foi-me enredando na narrativa e quando o final chegou, apesar de uma parte de mim já o esperar, ainda assim não deixei de ficar atordoado e maravilhado ao mesmo tempo. Curiosos? Espero que sim.

Foi uma história que me deu grande prazer ler muito por culpa da excelente narrativa da Carina. Uma narrativa não só bem escrita (e revista), em que cada peça é colocada no momento certo, não existem elementos a mais ou a menos. Não existe pressa nem preguiça na narrativa. Este sentido de tempo é difícil de encontrar num autor novo, mas a Carina consegui neste conto fazê-lo na perfeição.

Se tivesse de apontar um defeito a esta obra seria apenas o local onde se passa, Inglaterra, a serio?! Pessoalmente achava que bem que se poderia ter passado em Portugal ou então não mencionar o local pura e simplesmente. Mas isto sou só eu a tentar colocar defeitos a uma obra que de outro modo considero (quase) perfeita. 


domingo, 26 de janeiro de 2014

Uma nova Aventura

Como se já não bastasse não conseguir escrever um décimo do que gostaria aqui fui, sem saber bem como, vejo-me envolvido numa colaboração no blog do meu bom amigo Fiacha. Por sorte irei partir nesta aventura bem acompanhado pela Caminhante do blog Folhas do Mundo.


A primeira destas minhas colaborações irá sair amanhã e bem vão lá para saber sobre o que vai versar.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Prémio Bang! - O regresso


O Prémio Bang! regressou! É verdade, seis anos depois ele está de volta.

A primeira edição data de 2008 e acabou sem nenhum vencedor devido à falta de qualidade das obras que concorreram. Claro que não existe regra sem excepção e nem tudo se perdeu. De entre as obras que foram propostas a Saída de Emergência "aproveitou" (pelo menos) uma: "O Veneno de Ofiúsa" de Francisco Dionísio, mas para publicação na já extinta colecção TEEN.

Na altura esta atitude de não atribuição criou "alguma" celeuma. Quem frequentava o Forum Bang por aquele dias certamente se lembrará de algumas discussões que por lá ocorreram. Mas pessoalmente acho bem que não tenham feito concessões, ou se tem uma obra de qualidade ou então nem vale a pena. Esta "intransigência" da Saída de Emergência acabou por mostrar que eles não estavam a brincar, ou o melhor ou nada.

Nesta segunda edição parece-me que as probabilidade serão mais favoráveis. A Saída de Emergência consegui criar não só uma grande comunidade de leitores, mas com a revista Bang! (e com o Forum Bang! também) ajudou a criar também uma nova geração de escritores, e espero que agora (finalmente) comece a colher os frutos desse trabalho. Outro factor vem ajudar desta vez alarga-se ao Brasil e com certeza que também isto ajudará a que desta vez o prémio seja entregue. Embora espero que seja um Português a ganhar.

Para além do prémio monetário de três mil euros a obra vencedora será publicada em Portugal e no Brasil.

É feita na pagina de anuncio do Prémio Bang! a afirmação de que "é o primeiro prémio internacional de língua portuguesa para a literatura fantástica" , mas ou muito me engano ou o Prémio Caminho de FC também era internacional, alias alguns dos seus vencedores eram Brasileiros.

Os interessados poderão encontrar toda a informação necessária na pagina de anuncio do Prémio Bang!, e aqui o Regulamento do Prémio Bang! e caso decidam concorrer devem preencher o Formulário de inscrição.

A todos os que concorreram boa sorte.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Opinião - Clube de Patifes de Dan Simmons

Capa da primeira edição

Ernest Hemingway foi mais do que um escritor laureado com o prémio Nobel da Literatura em 1954. A sua vida foi recheado de aventuras que davam um ou mesmo muitos livros e foi isso mesmo que Dan Simmons se propôs fazer: escrever um livro que retrata-se um episódio da vida de Hemingway.
A história começa a 2 de Julho de 1962, no dia em que Hemingway se suicida (pelo menos é essa a tese oficial...), mas a razão desse acto leva-nos ao Verão de 1942, à ilha de Cuba, durante a 2.º Grande Guerra num período em que a balança parecia pender para o lado dos Nazis.
Toda a história é contada na primeira pessoa pela perspectiva do agente do FBI/SIS Joe Lucas. Lucas é um agente de contra-espionagem que é tirado a meio de uma missão no México pelo próprio J. Edgar Hoover, o director do FBI, para ser colocar como espião de uma rede de espiões amadores chamada Clube de Patifes, criada e liderada por Hemingway, mas desde o inicio que algo não está bem e Lucas sabe isso. Vai levar-nos de Havana à Finca (a quinta de Hemingway) e vamos passar bons e maus momentos a bordo do Pilar (o barco de Hemingway) enquanto procura atrair U-boat (submarinos Alemães) ao longo da costa de Cuba. Vamos conhecer outras facetas de pessoas que pensávamos conhecer como Ian Fleming, Ingrid Bergman, Gary Cooper, John F. Kennedy ou Marlene Dietrich, entre tantos outros.

No fim ficamos a pensar se sem querer Dan Simmons não terá descoberto a razão por detrás do aparente suicido tal o realismo deste seu livro.

O Clube de Patifes é um interessante thriller histórico em que nada é o que parece e no qual podemos contar com muitas voltas e reviravoltas e mistérios como não podia deixar de ser.  E como o autor diz na nota final, 95% são factos verídicos. O autor "meramente ligou os pontos" com (muita) imaginação, mas sempre ancorado na realidade dos factos.  Ora é nesta ancoragem na realidade que o livro tem paradoxalmente o seu ponto forte e fraco. É um livro extremamente rico em Historia, principalmente uma que nos costuma passar ao lado, os "movimentos de bastidores" na Segunda Grande Guerra, por norma dá-se muito mais atenção as batalhas que se travaram na Europa e ignora-se (quase) tudo o resto. Ora o autor carregou o livro dessa história e existe a possibilidade de alguns leitores sentiram-se algo esmagados com a quantidade de informação que nos é "despejada" (logo no inicio temos "Um Guia de Termos e Acrónimos dos Serviços de Informações"), mas penso que depressa o leitor tomará o ritmo ao livro.

A investigação de Dan Simmons foi exaustiva. Quem está familiarizado com a Historia deste período apreciará todos os pequenos (e grandes) detalhes que dão ao livro (ainda) mais vida. Para quem pouco ou nada conhece tem aqui uma oportunidade de aprender ao mesmo tempo que aprecia este belo livro.

E agora um pequeno aviso. Existem livros que só podem ser verdadeiramente apreciados depois de se ler a última palavra e o Clube de Patifes de Dan Simmons é um desses livros. Não me interpretem mal, apreciei o livro desde o inicio, mas só lhe dei o devido e verdadeiro valor no final e tenho a certeza que o mesmo acontecerá com muitos outros leitores. Portanto caso estejam com duvidas façam um esforço e vão até ao fim para assim perceberem na totalidade o quanto este livro é excepcional não só pela sua historia, mas também pela capacidade narrativa do autor. 

Quanto à tradução do João Seixas pareceu-me compete. Apenas não gostei das notas serem no final do livro, era preferível que as tivessem colocado no final das paginas onde aparecerem (embora não saiba se esta foi uma decisão de tradutor ou da editora), porque ter de ir ao fim do livro cada vez que aparece uma quebra o ritmo da leitura. 

Capa da 2.º edição, com a chancela da Camões & Companhia


Título - Clube de Patifes
Autor - Dan Simmons
Editora - Saída de Emergência
Tradutor - João Seixas 

sábado, 4 de janeiro de 2014

Opinião - Windhaven de George R. R. Martin e Lisa Tuttle



Windhaven é uma incrível historia de Ficção Científica escrita a quatro mãos entre George R. R. Martin e Lisa Tuttle. A historia poderá, à primeira vista, parecer simples, mas a maneira como esta dupla a contou eleva-a. Uma das razões deve-se ao facto da história (quase) começar onde (quase) todas as outras terminam. Ainda o livro não chegou a um quarto e já Maris Amberly consegui realizar os seu sonho de se tornar uma Voadora. Quando isso aconteceu não pude de ficar surpreendido e dizer para mim "Já?! Então e agora?". Por norma os "heróis" tem de passar tormentas para conseguir atingir os seus objectivos, mas em compensação depois "vivem felizes para sempre", mas não é o caso neste livro. Maris consegue realizar o seu sonho, com algumas tormentas é certo, mas de modo ilusoriamente rápido. Ao conseguir tornar-se uma Voadora a sua luta apenas começou e ela vai ter de lutar (ferozmente) para conseguir não só conservar esse estatuto como também o estender a outros como ela. Este é para mim um dos factores que distingue este livro, ele acompanha esta e outras personagens pela sua vida fora. Este livro é mais que uma pedaço de historia do Planeta Windhaven, é a historia da vida de Maris Amberly, desde (quase) o seu inicio até ao seu fim. Vamos assistir, de um lugar privilegiado, às consequências de cada decisão de Maris e das repercussões que cada uma terá na sua vida, nas vidas dos que a rodeiam, mas acima de tudo na Historia de Windhaven.

Outro dos temas centrais deste livro é o colocar em causa as ideias preconcebidas, é fazer-nos pensar em todas aqueles dogmas que temos nas nossas vidas e sobre os quais nunca paramos para pensar. No caso deste livro Maris coloca em causa a passagem por hereditariedade, como se fosse um título nobiliárquico, das Asas dos Voadores, independentemente dos herdeiros as querem ou para isso terem as devidas capacidades. Isto, claro, irá provocar uma verdadeira revolução com tudo o que elas sempre trazem de bom e mau.
Outro ponto forte é a "construção do mundo" (mais conhecido pelo termo inglês Worldbuilding). Sem que nos seja "empurrado pela garganta a baixo" vamos conhecendo a história de Windhaven, o porque de haver os voadores, como lá foram parar os seres humanos. E tudo de uma que apenas nos dará vontade de saber mais.

Como não podia deixar de ser o nome que aparece em letras gordas em todo o lado é a galinha dos ovos de ouro da editora Saída de Emergência: George R. R. Martin, mas não se deixem enganar, porque embora não coloque em causa o seu enorme talento, muito pelo contrario, eu que já li tudo o que foi publicado por cá dele não deixei de reconhecer a enorme influencia que Lisa Tuttle teve no desenrolar e final da história. Se não fosse a Lisa Tuttle este seria com certeza um livro muito diferente e, sem duvida mais, pobre, bem pelo menos seria muito diferente. Para quem está familiarizado com a escrita do Martin certamente que notará que a habitual "brutalidade" que o caracteriza está lá, mas de um moda mais ameno, sem que com isso se perca o realismo. Está presente a intriga, mas com outros contornos, aqui, mais do que a intriga pela intriga, temos as Ideias e os Valores em constante combate. 

Publicada originalmente em 1981, mais de trinta anos depois chega finalmente aos leitores Portugueses. Quem espera encontrar "mais do mesmo" do Senhor Martin vais sair desiludido, mas se libertar desse "preconceito" tenho a certeza que vais gostar do que irá ler. É um livro que vende (?) porque tem lá o nome George R. R. Martin e para que não restem duvidas de quem se fala, se ainda as houvessem, está a frase na capa "Do mesmo autor de A Guerra dos Tronos". Digo isto porque este é um bom livro, mas que só terá a atenção de muitos leitores por isso, se tivesse apenas o nome de Lisa Tuttle na capa o mais certo era passar ao lado de uma boa parte de nós o que é um pena. Também nós temos de fazer como Maris e questionar os dogmas que nos acorrentam, primeiro em frente ao espelho e depois com outros para assim nos libertarmos deles.



Titulo - Windhaven
Autores - George R. R. Martin e Lisa Tuttle
Editora - Saída de Emergência
Colecção - Bang!
Tradução - Jorge Candeias

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

O ano começa com "A Idade do Ouro"




Quando comprei "A Idade do Ouro" de John C. Wright, saiu em Agosto de 2004  e naqueles dias eu comprava os livros mal saiam, esperava lê-lo de uma assentada, mas ao final de "meia dúzia" de paginas já me tinha "perdido". Coloquei-o na estante para nunca mais lhe pegar, mas nunca o esqueci. Esperei até agora para voltar a tentar e porquê? Bem estou mais velho e sábio nestas lides. Nos (quase) dez anos que entretanto se passaram li muito e muito evolui portanto vamos lá ver como vai ser.
Neste hiato de tempo acabei por comprar os restantes dois livros da trilogia, "A Fénix Exultante" e "A Grande Transcendência" e o seu autor caiu em "desgraça" devido à sua polémica mudança de ateu para fervoroso religioso devido a uma experiência de quase-morte.

Quanto ao resto do ano e à laia de antevisão este vai ser um ano de muitas trilogias a começar com esta e avançando para a trilogia "O Quarto Mundo" de John Twelve Hawks, constituida por "O Viajante", "O Rio Negro" e "A Cidade Dourada" e "Os Jogos Da Fome" de Suzanne Collins depois de ver os dois primeiros filmes e de ter lido tantas opiniões favoráveis lá me "rendi". Conto também ler algumas antologias de Ficção Científica e Fantasia como "Por Universos nunca dantes Navegados" e o "Mensageiros das Estrelas". E para finalizar espero ler um clássico de que todos falam muito bem "Os Despojados" da grande Ursula K. Le Guin agora que finalmente consegui encontrar o segundo volume que à muito me fugia.

E para começo de ano já me parece muito bastante ambicioso.