quarta-feira, 30 de maio de 2012

Terceiro Clube de Leitura Bertrand do Fantástico Coimbra

E é já amanhã que se vai realizar o terceiro Clube de Leitura Bertrand do Fantástico em Coimbra. O Livro escolhido foi Deuses Americanos de Neil Gaiman


Desta vez, e a titulo excepcional, o encontro vai realizar-se no Parque Verde, na Feira do Livro, o ponto de encontro é o pavilhão da Bertrand, as 19:30.

Espero que apareçam, para uma animada conversa sobre este livro muito interessante.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

A Manhã do Mundo ou o Preconceito na Ficção Científica




O romance de Pedro Guilherme-Moreira, A Manhã do Mundo (Dom Quixote 2011), editado sob a asa protectora desse mito vivo da edição que é Maria do Rosário Pedreira, tem como cenário o atentado de 11 de Setembro de 2011 às Torres Gémeas. A sinopse na contra capa é esta:

No dia 12 de Setembro de 2001, Ayda encontrou-se com Teresa num café de Allentown e, com o jornal aberto sobre a mesa, foi implacável com os que tinham saltado das Torres Gémeas, chamando-lhes cobardes; mas não disse à amiga que, na verdade, o que sentia era outra coisa, uma grande frustração por o marido e o filho a terem abandonado e rumado a Nova Iorque num momento em que ela se recusava a tomar a medicação e lhes tornava a vida um Inferno - e de não ter coragem de fazer o que esses tinham feito. Entre os que saltaram, estavam Thea, Millard, Mark, Alice e Solomon - todos personagens fascinantes, com histórias de vida simultaneamente banais e extraordinárias -, que o acaso reuniu no 106.º piso da Torre Norte do World Trade Center naquela fatídica manhã. Se Ayda, por hipótese, conhecesse essas histórias e o drama que eles enfrentaram, decerto não os teria insultado tão levianamente. Mas poderá o destino dar-lhe uma oportunidade de rever a História? Este é um romance admirável sobre o medo e a coragem, o desespero e a lucidez, a culpa e a expiação; mas é também um livro sobre Einstein e os universos paralelos, sobre o que foi e o que podia não ter sido. No décimo aniversário do 11 de Setembro, a memória não basta, é preciso combater o esquecimento indo para junto dos heróis que viveram o horror e compreender cada um dos seus actos - se necessário, saltar com eles, conhecer aquela que foi a manhã do Mundo.

Não dei o meu tempo por perdido, pelo contrario, gostei da historia e da escrita do autor, mas houve e há uma questão que me tem provocado alguma celeuma desde que peguei no livro.
Muitas editoras tem adoptado colocar, por exemplo por cima ou por baixo do código de barras, o género em que se insere o livro, e assim é com este, mas ao invés de dizerem que pertencia ao Romance Histórico, Filosofia, Terror, etc, este foi só classificado como Literatura Lusófona. Esta classificação é uma redundância, pois é um livro escrito por um Português, e claro não se refere ao livro, mas sim ao autor e essa informação já nós tínhamos lido na badana, portanto tempo perdido. Compreendo que a editora, a Dom Quixote tive escolhido esta "classificação" pois não é conhecida no género em que este livro se insere: a Ficção Científica, sim este é um livro de Ficção Científico.
O que mais me "escandaliza" é o facto de em todas as entrevistas e criticas que li e vi ninguém ter mencionado frontalmente o facto de este ser um livro de Ficção Cientifica, isto quando pura e simplesmente ignoraram esse facto, o que é a maioria da vezes. Existem alguns apontamentos nesse sentido, mas nunca nada de concreto é dito. A critica da Rita Bonet na revista Os Meus Livros diz que o autor deveria ter explorado "a teoria dos Universos Paralelos" (nesta revista a critica foi "arquivada” em Romance), outros falam em historia alternativa e teoria das cordas. O único que vi falar em Ficção Cientifica foi um tal de Pedro Brás Marques e apenas para dizer que "não se trata de uma investida na temática da "História Alternativa", um sub-tema tão querido ao universo da ficção científica". Este senhor claramente nunca leu Ficção Científica. Ninguém, fossem jornalistas, críticos ou leitores foram capazes de dizer que este é um livro de Ficção Científica. Acho este facto triste, triste porque mostra que as pessoas ou não conhecem o suficiente do género da Ficção Científica para o reconhecerem ou então tem preconceito em dizer e classificar este livro, ou outro que esteja na mesma situação, como Ficção Científica. Tenho muitas duvidas que a senhora Maria do Rosário Pedreira não saiba reconhecer um livro de Ficção Científica quando lê um. Tenho pena que tenham classificado este livro como sendo um romance de Literatura Lusófona, apenas por razões de marketing e medo da reacção da pessoas que tem "nojo" da Ficção Científica. Assim essas pessoas "comeram" e ainda elogiaram o "chefe", se lhes tivessem dito o que era verdadeiramente, tinham largado o livro assim que vissem esse sinal de estigma que é pertencer à Ficção Científica. À imagem do que foi feito com o nosso Nobel, José Saramago, fica mal dizer que é Ficção Científica, é mais "chique" dizer que se trata de um "alegoria".
Algumas pessoas dirão que este livro fala das pessoas, dos seus problemas, de como se as circunstancias fossem diferentes também as suas decisões o seriam, e não de Ficção Cientifica com as suas naves espaciais e laseres, ao qual eu só posso responder que a ignorância é realmente muito, muito triste. Quem assim falar certamente que nunca leu as grandes obras que a Ficção Científica tem para oferecer. Mostrar-lhes ia, e para não sair das viagens no tempo e historia alternativa, pelo menos quatro livros que tem um estrutura muito similar à de "A Manha do Mundo".
Mostrava-lhes "A Segunda Manhã do Mundo" (Presença 2004) de Manuel de Pedrolo, onde depois de todo o planeta Terra ter sido destruidor, por extraterrestres(?), ainda que nada disto seja descrito, os sobreviventes Humanos praticamente se resume a uma rapariga de 14 anos e um rapaz de 9 anos, e do que eles tem de fazer para sobreviver, de como naquele novo mundo as suas decisões de outrora tem de ser revistas.
Mostrava-lhes "E Tudo o Tempo Levou" (Clássica 1992) de Ward Moore, onde nos é apresentado um mundo onde a Guerra Civil América foi ganha pelo Sul, somos levados a conhecer um mundo diferente e igual na mesma medida, mas que devido a um pequeno erro se transforma na nossa linha temporal.
Mostrava-lhes "Eis o Homem" (Saída de Emergência 2007) de Michael Moorcock onde um homem regressa ao tempo de Jesus Cristo, onde descobre que este é um atrasado mental, e não só, e ao invés de deixar que se crie uma nova linha temporal e aceita a cruz de se oferecer em sacrifício para que a historia que ele conheceu continue igual.
Três livros, e mais exemplos poderiam ter sido dados, que muito tem em comum com "A Manhã do Mundo" excepto claro o facto de uns terem assumido o que são e o outro não, escondendo-se de modo covarde e com a conivência de quase todos, sob o rotulo de Literatura Lusófona.
Entristece-me a falta de coragem quer do autor quer da editora em assumir o género da Ficção Cientifica, pois é um dos ricos que existe. Entristece-me que saber que amanha nada terá mudado.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Agradecimentos

Ao longo dos anos começamos a reparar em pequenas coisas que geralmente costumam passar despercebidas, ou que pelo menos não chamam tanto a atenção. Uma dessas curiosidades são os agradecimentos que os autores costumam fazer. Os autores estrangeiros (por norma anglo-saxonicos)  publicados em Portugal, são mais "agradecidos" alguns chegam a escrever duas ou três páginas. O autor Português é mais comedido.
Os agradecimentos, seja de estrangeiros seja de nacionais, geralmente são dirigidos à mãe e ao pai, à mulher ou marido e filho(s), a este ou aquele amigo, a um ou dois autores pela inspiração e a alguma banda de musica.
O  que difere entre o autor Português e o autor estrangeiro, é que este ultimo agradece muitas e efusivas vezes ao seu agente literário, uma figura (quase) ausente no panorama editorial nacional, e claro ao seu editor. Estes agradecimentos costumam variar entre o "obrigado pelas ideias e contribuições que deram para os rascunhos" e o "obrigado pelo tempo extra e pela paciência".
Não sei porque é que isto acontece, mas é uma questão pertinente pois é raro ler um agradecimento deste género num autor português sendo o contrario nos autores estrangeiros. Porque acontece isto? Será porque o agente literário e editor lá fora acompanha mais o processo de escrita do autor? Será porque os editores em Portugal serem mais uma espécie de publicadores do que editores?
Perguntas para as quais eu não tenho resposta, talvez um dia converse com autores e editores Portugueses em quantidades suficientes para chegar a uma conclusão, até lá ficam as perguntas.

terça-feira, 22 de maio de 2012

A coisa mais importante

Durante a feira do livro de Lisboa de 2010 o autor da trilogia A Dança de Pedra do CamaleãoRicardo Pinto veio apresentar o ultimo e muito aguardado volume dessa saga O Terceiro Deus.



 Na altura ele foi "apanhado" pela RTP a quem deu uma entrevista ao bloco noticiário das 22h do RTP2. Entre outras perguntas o jornalista perguntou-lhe se ele iria continuar a escrever Fantasia,ele diz que sim, mas que não iria regressar aquele, mundo, o inevitável porquê não se fez esperar, e a resposta do Ricardo Pinto também não, "porque é completo, o que acontece neste livro é a única coisa que acontece nesse mundo que é a coisa mais importante entre o passado e o futuro e no futuro não há nada e no passado as coisa forma sempre a mesma coisa e por isso isto é a historia que está nesse mundo não há outra historia".
Podemos argumentar que tal como a nossa historia existem muitos episódios dignos de ser contados, mas a percebo onde o Ricardo Pinto quer chegar. Acrescentar outros episódios à historia daquele mundo iria fazer as delicias de muitos leitores, eu incluído, mas também iria destruir o que nós imaginamos do seu passado e futuro. Assim ficamos com a mais importante Historia daquele mundo, aquela que o definiu.

Podem ver a entrevista no site da editora aqui ou no site do autor aqui.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

O paradoxo paradoxal

Nunca, como agora lemos tanto, mas ao mesmo tempo nunca o que lemos foi tão conciso. A moda começou nos telemóveis com o advento das mensagens, as Short Messege Service (SMS) e o seu limite de 160 caracteres, e com o tempo foi evoluindo. Nos jornais e revistas, salvo raras excepções, os artigos são cada vez mais curtos e sintéticos, as pessoas querem as noticias como querem o café, curto e para levar que tempo é dinheiro.
As redes sociais, também não ajudam, estando o twitter à cabeça com o seu limite de 140 caracteres que até já serviram para escrever livros(?!). Os blogs também não escapam a esta tendência e os texto curtos são a regra. O (nosso) Nobel da Literatura, José Saramago chegou a dizer sobre o twiter: "Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau vamos descendo até ao grunhido".
Mas o que é uma regra sem uma excepção? Pois bem essa excepção pode ser encontrada na Literatura Fantástica.

Para os leitores de Literatura Fantástica  a regra são as sagas (intermináveis) e/ou o calhamaço. No inicio a Literatura Fantástica vivia (principalmente) do conto, os grandes escritores de outrora começaram as suas carreiras pelo conto, mas hoje em dia o conto quase que é desprezado. A revista Bang! é a única, profissional, no panorama nacional que vai publicando contos e vamos tendo algumas fanzines de carácter amador também.
Das três colecções dedicadas ao Fantástico em Portugal, a Via Láctea (Presença), já com mais de 100 titulo apenas tem um livro que se aproxima, "O Último Desejo" de Andrzej Sapkowski. A colecção 1001 Mundos (Asa) tem três, a recente antologia de ficção cientifica "Fantasporto" de vários autores e com a organização do Rogério Ribeiro, e duas antologias de autores nacionais, o excelente "As Atribulações de Jacques Bonhomme" de Telmo Marçal,  e claro "Se Acordar Antes de morrer" do grande João Barreiros. E por ultimo a colecção campeã, a Bang (Saída de Emergência), que entre as antologias subordinadas a um tema (cinco), e as dedicadas a um autor (cerca de 30, embora alguns possam ser discutíveis) já leva um bom avanço às suas concorrentes. Já sei o que muitos estarão a pensar neste momento, mas devo avisar que estes livros de contos muito raramente tem sucesso e/ou são alvo de reedições, muitas vezes apenas são editados por casmurrice de editores saudosos.

O conto é então umas das melhores formas de contar uma história, pois não se pode alongar, não se pode "distrair" com banalidades, tendo de se concentrar no que realmente importa, a história. Já as sagas muitas vezes ou se "perdem" ou vão dar a volta pelo caminho mais longo.
A saga e o calhamaço respondem à nossa "fome" de sabermos mais um pouco de mundos que nos encantaram, mas sem que tal seja sinonimo de algo novo, muitas vezes acaba por ser mais do mesmo. O conto é o essencial, nem mais nem menos, e é uma pena que o publico mais jovem não pareça saber o que anda a perder.

Deixo um link para o livro de contos vencedor do prémio Caminho Ficção Cientifica em 1991, "O Futuro à Janela" do Luís Filipe Silva e que na introdução, apropriadamente intitulada "A Importância do Conto" o seu autor defende o conto de uma maneira que eu apenas posso invejar. Leiam, não só a introdução, mas também os contos e saibam do que esta magnifica forma de contar uma historia é capaz.

O Futuro à Janela de Luís Filipe Silva

PS: Numa nota algo ironica, no dia em que escrevo estas palavras, o prémio Camões é atribuído a Dalton Trevisan, também conhecido como mestre do conto. Afinal talvez ainda exista esperança...


domingo, 20 de maio de 2012

Os últimos são os primeiros

Um dia irão olhar para os livros que tem lá por casa e pensar que ainda não leram este ou aquele. Vão lembrar-se que um amigo, ou blog da vossa confiança falava muito bem desses livros, e que por essa razão compraram-nos, mas que por alguma estranha razão nunca os chegaram a ler. Já não se lembram do porquê. Andavam a ler outro(?) ou terá sido  naquele período complicado no trabalho(?) em não tinha tempo nem para dizer ai, quanto mais para ler! Fosse qual fosse a razão a verdade é que não os leram e quando deram por isso já os tinham arrumado (onde arranjaram o espaço é outro mistério). E de repente a vontade dos ler começa a regressar, chegam até a estender a mão para ele, mas a novidade que trazem no saco, acabadinha de comprar, chama por vocês mais alto do que aquele livro, que já quase esquecido até aquele momento. O mais lógico seria pegar no livro mais antigo e começar a lê-lo, mas a capa reluzente e a resumo da contra-capa esta gravado a ferro e fogo na vossa mente e vocês tem de saber qual o fim que aquele principio tanto promete. E mais uma vez aquele(s) livro(s) ficam na estante à espera que uma nova oportunidade surja.
Mais cedo ou mais tarde e a uns mais que outros, isto acontece a todos nós, o dia em que os últimos são os primeiros.